A gestão da presidente Patrícia Amorim ainda está no segundo ano, mas nesse pouco tempo, a mandatária tirou do papel as obras do Centro de Treinamento do clube, tirou da Gávea o futebol profissional e o levou para a sua casa permanente no Ninho do Urubu. Trouxe Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves e conquistou o Campeonato Carioca invicto. Ainda assim, a presidente conseguiu também trazer o maior nome da natação brasileira, César Cielo; possíveis medalhistas, como Nicholas Santos; manteve nomes da ginástica como Jade Barbosa, Diego e Danielle Hypólito e ainda manteve o basquete, esporte que conta com apoio enorme da torcida rubro-negra.
Tal equilíbrio é conquista de uma gestão de cortes de gastos desnecessários, nunca mexer no investimento do futebol e sempre reinvestir os lucros no clube. Na entrevista abaixo, a presidente conta como tem sido feita sua gestão, como faz para conseguir dinheiro e como corre atrás de mais patrocínios e parceiros, para aproveitar o momento olímpico. Mais: como obter mais investimentos do governo e reduzir os gastos do clube, além de tornar os esportes autossustentáveis. Confira o bate-papo com a presidente Patrícia Amorim:
Tal equilíbrio é conquista de uma gestão de cortes de gastos desnecessários, nunca mexer no investimento do futebol e sempre reinvestir os lucros no clube. Na entrevista abaixo, a presidente conta como tem sido feita sua gestão, como faz para conseguir dinheiro e como corre atrás de mais patrocínios e parceiros, para aproveitar o momento olímpico. Mais: como obter mais investimentos do governo e reduzir os gastos do clube, além de tornar os esportes autossustentáveis. Confira o bate-papo com a presidente Patrícia Amorim:
No balanço financeiro um dado aponta que o Flamengo investiu cerca de 40 milhões em esportes olímpicos. Houve realmente esse investimento todo?
Na verdade houve uma distorção, não é verdade. É que na apresentação colocou futebol e o (esporte olímpico) resto do clube e, quando você coloca o resto do clube, você coloca todos os funcionários de todos os departamentos do clube. Todas as intervenções que nós fizemos foi incluída nesse contexto. É que para a gente dar visibilidade que não ultrapassou o orçamento do futebol, ficou caracterizado que o que não era futebol, era esporte olímpico.
O que é importante destacar neste balanço financeiro então?
O simbólico é este, nós não mexemos no futebol, o que é do futebol é do futebol. O que nós buscamos foram parcerias, a ginástica artística tem duas parceiras, o basquete tem duas, algumas outras parcerias são pontuais, para algumas viagens. E mais do que dobramos a nossa capacidade de assinar novos contratos de licenciamento, isso nos deu uma tranquilidade grande. O nosso quadro sociativo subiu muito, entraram mais de dois mil novos sócios, depois voltamos a vender camisa como no ano passado com a chegada do Ronaldinho, nossos produtos licenciados aumentaram. Aumentamos nossos valores mínimos nos contratos e, se colocássemos jogadores da base, que não aparecem no balanço como patrimônio, só quando são vendidos, para mim tem um valor muito grande em preservar o patrimônio do clube. Mas ele só é contabilizado quando é vendido, então, quando nós tivermos uma proposta interessante, o nosso superávit vai ser bem maior.
O que é importante nessa gestão que não tira o foco do futebol, mas também busca apoio para o alto rendimento no esporte olímpico?
O que é importante é ficar no dia a dia do clube, perceber o que é importante, o que é indispensável, o que é prioridade e aí vai avançando. Tem algumas coisas, como por exemplo, eu gostaria de ter um time de vôlei de primeira linha e não posso ter, então, tenho só a base e a base já me custa, porque tem o salário dos treinadores. O ideal seria cada modalidade se autossustentar, o que a gente caminha para essa direção, com um futuro bastante promissor com Olimpíada e os investimentos chegando, mas eles ainda não chegaram e o clube ainda arca com a maior parte deste custo. Agora, tem que se fazer uma análise, porque o torcedor quer um time de futebol competitivo, é praticamente nisso que ele aposta, e o sócio do clube quer ter essas modalidades ainda. Então, é preciso ter a sensibilidade de saber até onde se pode ir, o importante é que cada departamento tenha o seu orçamento e que no futebol ninguém mexe, muito pelo contrário.
A torcida do Flamengo, além de um bom time de futebol e estrutura profissional, cobra também que quando o clube monte uma modalidade olímpica, que ela seja de ponta e dispute títulos. Como é administrar alto rendimento no futebol, no basquete, na ginástica, na natação...?
É uma verdadeira ginástica (risos). Muita conversa com os atletas, até onde dá para ir, onde não dá para ir. Por exemplo, quando o Diego operou o pé, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) falou que ele tinha que operar na Suíça com um médico determinado. Então, tinha uma parte que era do Comitê Olímpico, uma parte da Confederação e uma parte do clube, e isso não está no nosso orçamento, pagar US$ 18 mil por um pé novo (risos)... É terrível, mas isso acontece, às vezes a gente tem algumas surpresas. Agora a gente tem avançado muito na questão estratégica e tem licenciado muitos produtos. É como colocar roletas no clube, como fizemos em julho do ano passado e tivemos o melhor resultado de julho. Aumentou o número de sócios? Não, apenas aumentamos o controle. Então, quando aumentamos o controle, as coisas começam a funcionar, eu quero pagar menos água, menos luz. Com esses resultados eu não pago mais nada com juros, melhores negociações no banco, com taxas menores. São resultados que vão me dando resultados financeiros, que como instituição sem fins lucrativos, eu conseguindo um resultado financeiro aqui, eu posso investir ali. Então, eu passo o dia inteiro pensando em como eu vou despender um menor número de recurso e vou trazer um grande jogador. Mas isso é do dia a dia, eu acho isso bem gostoso, tem uma parte bem interessante.
Quando acontece, por exemplo, como o basquete, que tem um investimento bom e não consegue o resultado esperado, como fica a cobrança nesse esporte, a situação da modalidade?
O investimento existe em orçamento, mas tem que se fazer uma análise muito criteriosa. Chegamos entre os quatro, é lógico que se esperava do Flamengo chegar até a final, mas não conseguimos avançar. Chegamos somente a semifinal, mas nós perdemos na fase final um grande jogador que era o Babby, estávamos com um time machucado; Duda com o ombro, outro com não sei o quê, o Marcelinho fazendo fisioterapia, então, não foi um ano bom, foi um ano com muitos problemas. Mas a gente precisa avançar. Tem outra coisa também, em 2008/09, no primeiro ano que nós ganhamos, nós forçamos os outros times a repatriar alguns jogadores porque nos trouxemos o Marcelinho, que é de seleção. Depois começaram a chegar outros jogadores e o Flamengo foi superado. A gente continuou com mais ou menos o mesmo investimento, com mais ou menos a mesma equipe e agora a gente tem que reavaliar tecnicamente porque os outros se reforçaram, isso foi notório. Por mais que a gente goste de alguns jogadores, a gente tem que dar uma mexida.
Você acha que faz falta um outro clube de expressão também investindo assim no esporte olímpico como Botafogo, Vasco, Fluminense?
Seria interessante. Campeonato estadual mais forte... Mas o problema é que os clubes de futebol muitas vezes não têm credibilidade no mercado, então, algumas empresas e universidades, em vez de se associar a um time de camisa, preferem seguir sozinho, como no vôlei, porque os clubes de futebol, ao longo dos anos, perderam essa confiança. Eu acho que a maior virtude deste trabalho é tentar mostrar para outros clubes que é possível pensar um pouquinho diferente, tem limitações, mas investe na modalidade que quer. A gente tem estatutariamente o remo e o basquete é o segundo, depois do futebol. A torcida gosta muito de futsal, mas ou o Flamengo entra para ganhar ou meio termo não dá, então não da para ter time de futsal agora. As outras modalidade são mais acompanhadas pelo sócio, que são natação, pólo aquático e nado sincronizado. Então, são coisas que a gente consegue levar, 60% da arrecadação nossa em escolinhas é da natação, então, você consegue justificar o investimento. Mas eu diria que o mais difícil hoje é a ginástica artística, pela qualidade e excelência que chegou e você não consegue colocar 20, 25 crianças numa aula de escolinha porque você tem um risco, já a natação e o basquete você consegue, então, é um custo mais caro, mas é ao mesmo tempo o esporte onde você tem o maior número de atletas olímpicos.
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